Meu nome é Antônio Pereira, mas todos me conhecem como Arthur Black. Sou um escritor. Já fui rico, influente e cobiçado, graças às minhas histórias infantis. Perdi quase tudo, vocês sabem como é... o que vem fácil, vai fácil...
Já que estou abrindo meu coração, preciso confessar que menti sobre o meu livro mais famoso. Aquele livro que se transformou num grande sucesso no cinema. Sempre achei que jamais falariam sobre o assunto, mas eu estava enganado.
Fui abordado pelo homem que conhece o meu segredo, e ele fez-me uma proposta que não tive como recusar. Prometi que escreveria um novo conto infantil, e que seguiria todas as suas regras.
Começo a perceber que há algo muito estranho nesse lugar que ele me trouxe e que depois me deixou sozinho. Minhas noites são atormentadas por situações que fogem à minha compreensão. Alucinações? Realidade? Já não sei dizer.
Existem portas neste mundo que se abrem em lugares desconhecidos. Talvez sejam elas as responsáveis pelo surgimento das silhuetas, das vozes e da luz branca e intensa que irrompe da escuridão do campo. A cada dia que permaneço aqui, mais nebulosa se torna a minha percepção.
A única certeza que tenho é que o livro que escrevo todos os dias se torna completamente diferente logo após eu ir dormir.
Novo livro, lançado esse mês
Volto a andar por aquele encantador cenário. Respirando fundo e sorvendo os cheiros que me recepcionam. Mais à frente, o terreno apresenta ondulações e uma menor quantidade de árvores. Subo a primeira delas com a cabeça baixa. Quando a levanto, encaro o primeiro elemento nitidamente criado pelas mãos humanas. Afinal, a natureza não é religiosa.
Cravada entre as pedras e a terra negra, uma cruz de madeira com aproximadamente 50 centímetros de altura, inclinada para a margem do riacho. Um pequeno vaso a sua frente. Flores mortas como uma oferenda esquecida.
Eu nunca gostei de pessoas mortas. Nunca gostei do ritual para os mortos. O ato de passar a noite em claro na companhia de um ser inanimado, as orações, as velas e as palavras vazias de um padre. Acho que ter sido obrigado a ver meus pais sendo enterrados quando tinha apenas 17 anos não contribuiu muito. Foi difícil olhar para as suas peles brancas, seus olhos fechados e as mãos meticulosamente cruzadas sobre o peito. Foi pior quando meus tios insistiram para eu lhes beijar a face fria. Não é que eu não os amasse, pois eu os amava. Mas a vida que habitava dentro deles já não estava mais lá durante o ritual de enterro. Aqueles corpos inertes se tornavam apenas a representação da dor que eu sentiria por suas ausências. E eu não queria me lembrar deles naquela situação. Após a perda de meus pais, eu gostaria de não mais carregar dentro de mim sentimentalismos pelos mortos. Mas ainda os carrego.
Sinto-me mal ao fitar aquela representação que me remonta ao passado. Recuo alguns passos. Embora permaneça encarando, quase hipnoticamente, a cruz. Não posso deixar de experimentar uma sensação de familiaridade.
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English
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Already translated.
Translated by Priscilla Silva
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Author review: Excelente tradução e trabalho realizado de maneira extremamente profissional. Parabéns Priscilla. 100% recomendado. |
Spanish
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Already translated.
Translated by Luis José Fernández
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Author review: Excelente trabalho de tradução. O tradutor é bastante atento aos detalhes e muito dedicado. Altamente recomendável! Espero voltar a trabalhar com o Luis José Fernández. |