“Clarice” acorda dentro de uma caçamba de lixo, sem saber sequer o seu nome. E o mais estranho: está no ano de 2040, em uma São Paulo decadente. Enquanto começa uma desesperada busca para descobrir a si mesma, ela tenta se adaptar a esse estranho mundo cercado de avanços tecnológicos e retrocessos humanitários.
Sua obsessão em encontrar uma maneira de voltar à sua época não a impede de mergulhar de cabeça nessa aventura. Em meio a esses mergulhos, ela encontra pessoas que fizeram parte de sua misteriosa história – que poderá ser modificada tanto para melhor quanto para pior. Mas, muitas vezes, o esquecimento é melhor do que a verdade nua e crua.
Por um capricho do destino, ela acaba conhecendo o enigmático Elvis e o seu fiel companheiro Kurt, um gato que consegue ser ainda mais enigmático. E esse encontro, aparentemente corriqueiro, poderá marcá-la profundamente.
Vivendo no limite entre ser a caça e a caçadora, ela vai se redescobrindo no futuro ao mesmo tempo em que o passado vai sendo destilado até que tudo se torne uma coisa só: o presente. Como todo bom thriller, não faltarão reviravoltas, perseguições e um psicopata à solta.
O Rastro da Alma fala sobre assassinatos, violência e paixão. Um livro que invade, sem pedir licença, o território do noir. Uma história eletrizante com um toque de distopia e sadismo. Tudo isso separado por uma linha tênue entre o futuro, o passado e o presente...
Flocos de neve caíam sobre São Paulo. Era noite em que ratos morriam de hipotermia, rios se congelavam e aviões não decolavam. Em um beco escuro no centro da cidade, dentro de uma caçamba de lixo, uma jovem garota tremia dos pés à cabeça. Os flocos salpicavam seu vestido azul-marinho, seus cabelos cor de chocolate e sua pele branca como a própria neve. Os lábios se empalideciam cada vez mais, enquanto três homens vestidos de preto se aproximavam.
As pálpebras da jovem repuxavam freneticamente, sinal de que ainda estava viva. O vento sibilava tanto que abafava o rangido das placas de sinalização que se contorciam. A cidade fantasma se pintava de branco. Mas os três homens continuavam marchando ao mesmo tempo em que se embriagavam com vodca.
Logo eles dobraram a esquina e entraram no beco. De repente, algo brilhou entre as dezenas de sacos de lixo: eram duas luzes radiantes de tom âmbar, eram os olhos da garota que enfim despertara.
O instinto falou mais alto e ela, apesar de grogue, saltou da caçamba. No mesmo instante, um dos três homens exclamou:
— Tem uma mulher ali! Vamos pegá-la, logo!
A jovem arregalou os olhos ao ver os três correndo em sua direção. Então ela, com os pensamentos confusos e nebulosos, saiu em disparada para onde o nariz apontasse. Corria, mas corria tanto, mas tanto que conseguia aumentar a distância para o trio.
Cruzou avenidas, pegou atalhos, dobrou esquinas, até que cortou para a direita e se encostou em uma porta. Aguçou os ouvidos e escutou apenas o ruído do vento. Respirou aliviada e se livrou do jornal que aderira ao seu pé descalço; o periódico exibia uma matéria sobre Clarice Lispector.
Language | Status |
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English
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Already translated.
Translated by Maria Eduarda Fernandes
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Spanish
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Already translated.
Translated by Maria Fernanda Gastellú
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