Século I da nossa era. Um jovem desce do seu povoado e vai trabalhar para uma vila perto de Brácara Augusta, a cidade que os Romanos construíam num outeiro. Na vila, o senhor lia Cícero nos intervalos da sesta, a senhora passava horas ao espelho a disfarçar as rugas com unguentos fenícios, o filho ia para os lados do Catavo encontrar-se com a amada – uma nutrida indígena que conhecia as artes de encantar bois –, e a filha dava passeios com o jovem brácaro pelos limites da vila, os cães atrás a cheirar toca de coelho. Poderia um Brácaro aprender latim, namorar a filha de um Romano e servir nas legiões do imperador sem esquecer a sua origem? História de amor, história de desespero pontuada de condescendentes sorrisos às coisas que o céu cobre sob o impassível olhar dos deuses.
Genre: FICTION / HistoricalO livro teve várias edições em papel, a primeira em 1999 pela Campo das Letras (Porto). Foi muito bem aceite pela crítica e é considerado um dos mais importantes romances que se escreveram em língua portuguesa sobre a presença romana em Portugal.
O cão rosnou, acordando o dono de um sonho de batalha em que ele, sobre o cavalo, esventrava os inimigos e descobria que eram de pau e trapos.
– Que me queres? – exclamou esfregando os olhos com as costas do indicador dobrado.
– As minhas desculpas por vir acordar-te, senhor. Foi Arcisa que me disse que poderia encontrar-te aqui a ler. Afinal, enganou-me.
– Eu estava realmente a ler. Não vês aqui o rolo, meu idiota?
Na verdade, ao pé da cauda do cão, estava um rolo de papiro com uns desenhos em formiga.
– Fui a Brácara Augusta.
– Levaste a carta a Túlio Vício Marcolino?
– Sim.
– Qual foi a resposta?
– Disse que vem.
– E o comerciante Quinto Vário Latro?
– Também.
– Mas esqueceste-te do centurião Caio Fusco Mamílio...
– Oh, não! Entreguei as cartas todas. O que disse que não vinha foi Tito Sulpício Ânio.
– O quê? Não vem à minha festa? Por Mercúrio, se eu não lhe respondo a essa desfeita! E pela cidade, alguma novidade?
– A chegada do procurador de Augusto. Parece que vem ver as contas da cúria e a história dos impostos que levam tempo a chegar a Tárraco. Mas disso pouco entendo.
– E nem tens que entender! – exclamou irritado. – Vou ter de enviar uma carta a esse procurador convidando-o também para a festa. Mas fica para amanhã. Podes ir ao teu serviço. Pede a Ramilo que te ajude a matar e a esfolar o bicho.
– Outra coisa: Aquele rapaz brácaro de que te falei veio comigo.
– Que rapaz brácaro?
– O de Eleanóbriga, a minha aldeia.
– Ah, sim. E então?
Language | Status |
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English
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Translation in progress.
Translated by Victor Guimarães-Mariusso
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Spanish
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Already translated.
Translated by Joaquin Monzón D'hervé
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