Mãe Liberté by Monny Ismeralda

O homem devorado pelo desejo se aprisiona na própria liberdade

O homem devorado pelo desejo se aprisiona na própria liberdade

Mãe liberté

Qual é a cor do amor? Pode você definir o meu valor através da minha cor, subtraindo a minha raça, anulando a minha identidade?  O que é a liberdade? É o direito de discordar a premissa da liberdade?  Você é livre e livre você nasceu.  Será que, ainda assim, é possível abraçar a liberdade reprimindo o desejo? 

“Você é livre para odiar a minha cor, a minha opção sexual, a minha religião, a minha raça, no entanto, o direito proíbe a sua liberdade de expressar o seu ódio”

 Desejo, amor, direito e preconceito, os filhos cativos da Mãe Liberté. Um relato pungente sobre as mais variadas e intrigantes facetas da liberdade, muitas vezes vestida de ideologia medíocre, um sútil cobertor para aquecer as nossas próprias fraquezas do frio da verdade. Na cidade de Santo Amaro da Purificação, por entre canas e canaviais nasce Luzia, a filha da liberdade violentada, uma mulher que ousou desafiar os ricos escravizadores; o doce extraído das entranhas de uma mãe corajosa perseguida pelo preconceito de cor. Nasce uma vida, morre uma mãe, perpetua-se um amor. Filha única de mãe preta e pai branco, adotada pelo advogado português Dolce Alcântara, acolhida pelo amigo doceiro Gabriel; um jovem  reprimido pela sociedade por não poder assumir a sua homossexualidade. Luzia  se apaixona pelo advogado Simão, o filho do poderoso negociador de vidas, Emílio Tolte. Direito e amor se encontram, amor e dever se confrontam culminado numa guerra pela liberdade.  

 Será que há limites para amar?  Será que o ser humano devorado pelo desejo é verdadeiramente livre?

 

Genre: FICTION / Historical

Language: Portuguese

Keywords: Liberté, liberdade, preconceitos, Brasil corrupto, corrupção.

Word Count: 45.153

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 – Adeus papai  –, enquanto saía.

Pelo sangue ou pela justiça, o dever estaria acima do instinto filial, pois não iria apoiar maldades. Infalivelmente lutaria contra as intempéries sociais. São tantos os homens que, embora livres, ainda permaneciam escravizados à inferioridade do próprio instinto. Dizia o direito invicto que confiável é o homem que tem o dever acima do instinto, visto que vê no seu semelhante a própria imagem, não desejando ao outro o que não quer para si. O instinto é a infância da alma. Deixar-se seduzir por ele é o mesmo que se permitir guiar por uma criança teimosa, já que as decepções são inevitáveis. Pelo mesmo caminho, a opressão social produzia animais pensantes; o instinto escurecia o gozo da razão do bom senso. Nesse estado racional muito primitivo, o homem pensa, mas não existe porque morre tomado pela doença da posse vazia, de modo que o que ele tem passa ser o que ele é. Na vida, o desejo e o dever se repelem. O instinto alimenta o desejo; já a moral atenta-se à viabilidade do dever. Quando se quer, nem sempre se convêm ter.

Quem se diz proprietário do mundo está mais perto de ser propriedade do que senhor majoritário. Jamais ouviu-se um homem reclamar da pertença dos pés ou dos olhos. Tal verdade leva a pensar que o homem é proprietário do que não fala e escravo do que diz. E, assim, dita o mundo  uma corrente escravizadora que impõe valores dos quais geralmente não se professa, mas se segue por temer a solidão da não-aceitação. Fortes são, porém, os guiados pela moral, porque se dominam, sabem dizer não para as mentiras do mundo e são capazes de dizer sim para si. Não obstante, nesses tempos de escravidão de corpo e de intelecto, se os covardes fossem banidos da vida, não restaria um único continente.

De longe parou para que uma carroça, puxada por dois escravos, passasse. Os crioulos fortes se faziam de animais para transportarem o doce, o açúcar.

Enquanto os observa, falava.

 – Tão grande é a mentira da vida que induz; conduz trilhar caminhos da realidade, a falsa verdade. Como haveríamos de chamar de verdade o que nasce na mentira?

A realidade é apenas veste para a verdade. O que é verdadeiro é magno. Fragmentada é a mentira, a hipocrisia que se reveste de incontáveis nomes com o único fim de satisfazer os nossos desejos, filhos do instinto, pais da corrupção, da violência e da falsidade. Por vergonha de nos aceitar como indivíduos dotados de personalidade ímpar, entregamo-nos à mesmice das correntes dos cegos que seguem cegos, dos que dizem sim, não porque consentem, mas porque temem negar a maioria e acabar abandonado pela multidão.

Liberté, vida para a verdade, morte para a escravidão.

 


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