Em Horribile Dictu, a incursão de um investigador sobrenatural no horror de uma família destruída pela ânsia de poder de seu patriarca. Em Umbilical um psiquiatra atende um paciente obeso por conta de um distúrbio alimentar pouco usual. Estranhas fortunas recaem sobre um homem que tentou cometer suicídio em Paradiso. O Ovo, Quebradoconta a angústia de uma mulher presa num relacionamento infeliz, que opera uma profunda transformação.
A Mancha é uma doença de pele de natureza peculiar que aflige um lixeiro. Um homem raptado tenta refutar as insinuações de seu misterioso sequestrador em Raptor. Em Superprotetor, uma criança solitária encontra um grande amigo para suas brincadeiras. Uma mulher grávida desiludida com a religião como alegoria para a perda da fé, em Apostasia.
Dia de Todos os Santos traz um psiquiatra retornando às ruínas do asilo onde foi enfermeiro para encontrá-lo assombrado. Um homem muda-se para uma rua repleta de ocorrências estranhas em Wyrd. Um homem descobre-se capaz de produzir dinheiro do nada no conto Mammon. Em Pinus, um garoto torna-se amigo do monstro do velho armário de seu avô.
A coletânea encerra com Cavalos, em que um velho adquire um cavalo de corrida para evitar que seja sacrificado.
Umbilical
“Azedo, doce, amargo, pungente; tudo deve ser provado.”
— Provérbio chinês
Ele ouvia pela enésima vez aquele maldito barulho de canudo sendo chupado. Como se o líquido entrasse em um de seus ouvidos e passasse para o outro, frenético, por um tubo vazio. Esse mesmo vazio persistia mesmo depois das suas refeições. Terminava de comer e parecia não ter adiantado nada. Mais e mais fome.
Levantou das duas poltronas que ocupava no corredor estéril do hospital e saiu pela porta de visitantes. Andou devagar pelas ruas, mas odiava a calma, aquela morosidade forçada. Queria correr ligeiro, o vento soprando sua face. Queria também ter cabelos, para sentir o vento neles.
Chegou às portas da casa, um suspiro cansado e familiar deixando os lábios, enquanto se apalpava em busca do chaveiro. “Perde-se fácil nisso tudo”, um conhecido havia falado certo dia. Finalmente achou o aro de metal com as chaves, o chaveiro com um prisma plástico imitando cristal. Abriu a porta e passou com dificuldade, girando o corpo.
Estava em seu mundo: um sofá de encosto alto e assento largo (para outro, talvez, mas não para ele), virado para uma televisão pequena e velha, preta e branca, sobre uma toalhinha de renda cobrindo o tampo redondo de uma mesinha, suportada por uma haste que terminava em quatro pés retorcidos. Ele sempre achou que a mesa lembrava uma taça, uma da qual há muito tempo não bebia.
Andou pela casa e entrou num estreito corredor. Nas suas paredes, fotografias ocupadas por pessoas roliças, algumas no meio de outras chamadas “aberrações”, pessoas mutiladas, peludas, monstros, irmãos siameses, ou simplesmente pessoas com aparências “além do tolerável”.
Language | Status |
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English
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Already translated.
Translated by Joao Lopes
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Spanish
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Already translated.
Translated by Sebastián Velásquez
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