A FADA DO DENTE conta a história de André, um tradutor carioca de trinta anos envolvido com ocultismo que começa a fazer um tratamento com Amália Maria, pitoresca dentista que acaba se revelando uma bruxa. Para azar do aspirante a mago, ela descobre que ele tem algo que ela quer — um livro herdado de Alcydes, seu mestre no ocultismo. Ao ver que André se recusa a vender o livro apesar de suas generosas ofertas, Amália se mostra disposta a fazer tudo que uma bruxa-dentista é capaz de fazer para conseguir o seu intento. Sem querer abrir mão do valioso presente e não levando a situação muito a sério, André vem a perceber que Amália é bem menos inofensiva do que parece, e quando se dá conta está enredado em uma batalha entre magos, feiticeiros e ocultistas que termina de maneira desconcertante.
Com uma linguagem ao mesmo tempo mordaz e generosa e uma narrativa pródiga em sexo, drogas e ação, A FADA DO DENTE brinca com as superstições que as pessoas chamam de magia, e ao mesmo tempo levanta a possibilidade de a magia existir, sim — apenas não no sentido em que estamos acostumados a entendê-la.
Este é o primeiro volume da série Histórias Mágickas, dedicada a narrativas sobre “magia com K”, ou seja, magia contemporânea, voltada para o século 21, livre de tabus. Cada volume é um mergulho no inesperado.
The book has just been released. It's my first fiction book, but I have translated more than 50 fiction books so far, so I am not unexperienced when it comes to writing fiction. A translator's job is to rewrite the book in their own language. Being a translator myself, I understand and support the professionals working on my original text.
Enquanto André ficava de boca aberta, Amália falava. Sobre os mais variados assuntos em voga, de acordo com informações colhidas em periódicos como Veja e Caras, dos quais era ávida leitora — sua sala de espera estava de prova. Aparentemente, Amália gostava de transparecer mordacidade, mas André a considerou desqualificada para o cargo de sarcástica de plantão. Ela usava trocadilhos sem noção e tinha um humor pavê ou pacumê deveras constrangedor.
André passara quase dez anos sem pisar num consultório de dentista. Da última vez, tinha seus vinte e poucos anos e estava sofrendo uma daquelas dores lancinantes que só sabe quem já sentiu. Foi numa emergência odontológica 24 horas. Disseram que precisava obturar um dente. Nem doeu, a bem da verdade. O dentista obviamente não deixou de lhe anestesiar a boca, mas isso não bastou para André perder o trauma. Às vezes André se perguntava se na verdade não gostava do trauma, se ele não abraçava o trauma, estendendo-lhe um tapete vermelho e tudo.
O tratamento completo previa algumas visitas ao consultório, e André concluiu que prestar atenção nos comentários sensaborões da dentista seria uma boa tática para desviar o foco do tal do trauma.
De modo geral funcionou. Amália Min podia feder a cigarro e pensar com a profundidade de um pires, mas bem que estava se mostrando uma profissional competente.
Até que na terceira consulta a coisa começou a mudar de rumo.